Caro(a) leitor(a),
Existem algumas regrinhas de mercado que, se obedecidas, tornam praticamente impossível a um investidor, seja ele um home trader ou um gestor profissional, perder dinheiro.
Paradoxalmente, esses mandamentos são tão óbvios quanto difíceis de serem cumpridos. Vamos a eles:
Preço de custo – Se você comprou Petrobras a 22 reais, esse número não tem a menor importância para o mercado. Em determinado momento, a 22 alguns venderam e outros compraram e um destes foi você. No entanto o tipo mais comum de diálogo que ouvi em meus 37 anos de trader foi algo como:
“Estou comprado em Petrobras”, diz alguém.
“Pagou quanto?”, pergunta um interlocutor.
“Vinte e dois.”
“Caramba, o mercado está a 30. Você não vai vender?”
“Meu preço de venda é 33. Já até deixei a ordem GTC (good till cancelled – válida até ser cancelada). Aí ganho 50 por cento.”
E daí que o cara vai ganhar 50%? E se a Petrobras continuar subindo por meses, e quem sabe até por anos, a fio? Nessa hipótese valeu a pena ganhar 50%? Não poderia ser 100%, 200%, 300%...?
O preço de compra é aquele no qual um ativo, seja ele ações, ouro ou dólar, está barato. O de venda deve ser aquele no qual está caro.
Acontece que pouquíssimas vezes na vida vi um trader se esquecer de seu preço de compra, agir como se estivesse comprado na cotação daquele momento. Se a Vale do Rio Doce está a 48 reais, seu preço é 48 reais, mesmo que você tenha adquirido o papel a 19 ou a 53. Quarenta e oito reais é o número a ser avaliado.
Qual é o P/L a 48 reais? A 48 reais, como está o EBITDA (Earning before interest, taxes, depreciation and amortization – Ganhos antes dos juros, impostos, depreciação e amortização)? E assim por diante.
Quarenta e oito reais é o preço mais importante do mundo porque é a cotação daquele momento.
Stops – Posso dizer com total convicção que se um investidor não fizer stops será um perdedor eterno. Mais do que isso, o mercado o alijará do meio. A não ser, é claro, que o aplicador seja um bilionário e esteja nas bolsas aplicando uns trocados por mera diversão.
Os stops não precisam ser passados para a corretora. Basta que esteja na mente do investidor e ele o obedeça.
Certa ocasião, e isso aconteceu no final dos anos 1980 ou no início dos 1990, comprei uma grande quantidade de contratos de soja na CBoT (hoje CME) em Chicago. Já não me recordo do preço, mas digamos que a compra tenha sido feita a 5,62 dólares e três oitavos (os sufixos das cotações da soja são em oitavos: dois, quatro, seis e oito oitavos). Se na tela está 5,626, isso significa cinco dólares, sessenta e dois centavos e setenta e cinco centésimos (seis oitavos) de centavo.
Pois bem, foi só eu comprar e a soja entrou em um ciclo de baixa. Como não pus stop, e resolvi ser mão firme, pagava ajustes todos os dias. Então, embora já tivesse 32 anos de profissão, defini como objetivo meu preço de compra. Coisa mais amadora, impossível.
Depois de alguns meses, o mercado voltou ao meu famigerado preço de compra. Liquidei tudo no zero a zero.
Brilhante!
Não, burrice!
A partir do momento em que zerei minha posição, a soja continuou subindo. Com novos fundamentos, o preço ficara barato.
Ou seja, numa única operação fiz duas bobagens. Comprei sem stops e vendi tendo como objetivo o famigerado “preço de custo”. |
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