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Segunda-feira, 9 de novembro de 2020 |
Plano de recuperação do Salomão |
No início de novembro de 1976, uma turma de especuladores do mercado, da qual eu fazia parte, foi passar uma semana em Las Vegas.
Um dos integrantes do time, já falecido, chamava-se Salomão.
Não é que ele perdeu todo seu dinheiro nas primeiras horas do primeiro dia.
Penalizados, fizemos uma vaquinha, juntamos 100 dólares e demos para ele, junto com um plano de recuperação:
“Você vai para a roleta, espera dar três vezes seguidas o preto. Então joga 50 dólares no vermelho e os outros 50 no 11 preto. Faz isso várias vezes até que a bolinha caia no onze. Quando isso acontecer, vai ganhar 1.800 dólares. Corre então para o Black Jack e, com um pouco de sorte, dobra o dinheiro. Três mil e seiscentos. Pula para a mesa de dados (craps) e dobra de novo. Nessa toada, logo terá 10 mil dólares.”
Salomão sentou-se à mesa de roleta, esperou dar o preto três vezes e fez o que lhe foi recomendado.
A bolinha caiu no duplo zero e o plano de recuperação morreu no nascedouro. |
Terça-feira, 10 de novembro de 2020 |
O pior momento do mercado |
Desde que comecei a trabalhar no mercado financeiro, o pior momento que testemunhei foi o início da tarde de sexta-feira, 16 de março de 1990.
Nessa data, um dia após Fernando Collor tomar posse na Presidência, a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, anunciou, pela TV, as medidas que ficariam conhecidas como Plano Collor.
Como operava somente nos mercados internacionais, e tinha todo o meu dinheiro fora do país, não fui afetado pessoalmente.
Acontece que eu fazia meus negócios diretamente da trading desk da distribuidora FNJ, no Rio de Janeiro. Os demais traders da mesa operavam nas bolsas de valores e no open market brasileiros.
Os telefones não paravam de tocar. Eram clientes querendo saber como ficariam suas aplicações.
Não me esqueço da resposta de um dos meus colegas profissionais, que ficava bem em frente a mim:
“Desculpe, amigo. Estou tão abalado que não sei o que dizer. Mas se você vier até aqui, poderemos tomar um café e chorar juntos, um no ombro do outro. Isso ainda se pode fazer, até o café acabar.” |
Quarta-feira, 11 de novembro de 2020 |
Em 1979, após ter vendido a Fator, tornei-me empregado. Fui contratado por uma distribuidora, para ser operador de open, com carteira assinada.
Nós, traders, recebíamos uma gratificação, que chamávamos de “bicho”, todo mês de fevereiro, sobre o lucro do ano anterior.
Pois bem, fechamos 1979 com um resultado espetacular.
Todas as manhãs, antes da abertura dos mercados, os operadores faziam uma reunião para definir a estratégia do dia.
Numa delas, em janeiro de 1980, alguém sugeriu um trade alavancado em ORTNs.
“Acho besteira”, eu disse. “Imaginem se dá errado. Eles vão diminuir, ou cortar, o bicho que já conquistamos. Acho melhor fingir de morto.”
Voto vencido, compramos os papéis. Levamos uma porrada.
Um dos diretores nos convocou.
“Em função desse ferro”, ele disse, “não vai haver bicho.”
“Mas é sobre o lucro do ano passado”, argumentei.
“Que vocês devolveram agora em janeiro. O bicho mixou”, repetiu.
Até hoje choro as mágoas sobre aquela grana que deixei de receber. |
Quinta-feira, 12 de novembro de 2020 |
Certa ocasião, antes do advento do Selic e da Cetip, comprei um grande lote de Letras do Tesouro de Minas e fui à BH pagar e pegar os papéis.
O vendedor era a corretora H. Picchioni, na qual eu já trabalhara.
Chegando lá, havia um operador do Rio (vamos chamá-lo de Jerônimo), da Garantia. Fomos até o guichê onde ficava o tesoureiro.
Ele chamou primeiro o Jerônimo. Mas, ao me ver, disse:
“Vem também, Ivan. Afinal de contas, você é da casa.”
As duas liquidações foram feitas juntas. Aí, suprema humilhação, constatei que a Garantia comprara lote maior por preço menor.
Jerônimo e eu voltamos para o Rio lado a lado no avião.
Só pela maneira como ele se agarrava aos braços da poltrona, eu, macaco velho na aviação, percebi que tinha medo de voar.
À altura de Barbacena, atravessamos severa turbulência.
“Tem perigo, Ivan?”, ele perguntou, cada vez mais apavorado.
“Nenhum”, respondi. “Só quando há granizo.”
Eis que uma chuva de pedras se choca contra a aeronave.
“O que é isso, Ivan?”. “Granizo”, respondi calmamente. |
Sexta-feira, 13 de novembro de 2020 |
Na época em que operava futuros em Nova York e Chicago, sempre definia stops em meus trades. Mas não os passava para o pregão.
Quando a cotação do stop surgia na tela à minha frente, eu dava a ordem para sair da posição, a mercado.
Certa ocasião, vendi a descoberto um grande lote de francos suíços futuros na IMM (International Monetary Market), uma divisão da CME (Chicago Mercantile Exchange).
O preço foi US$ 0,6440 por franco. Fixei o stop em 0,6461. Só que, como tinha um almoço marcado, e naquela época não havia celulares, passei a ordem para o floor.
Quando voltei ao escritório, constatei, desolado, que tinha sido “stopado”. Pior, meu stop fora a máxima do dia. Perdera 32 mil dólares.
Só mais tarde soube que os floor traders da IMM forçavam esses stops para roubar os especuladores. Foi quando agentes do FBI, que haviam se infiltrado no pregão, trabalhando como auxiliares de operação (runners), levaram em cana uns 30 profissionais algemados pelas costas.
Só que nunca recebi de volta meus 32 mil, que choro até hoje. |
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